Apresentação - XXII Simpósio FE/UFG - 2015
XXII SIMPÓSIO DA FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CIÊNCIA E FORMAÇÃO: UTOPIAS E DESENCANTOS
Coordenadora do Projeto: Profa. Dra. Núbia Ferreira Ribeiro
Instituição Promotora: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás
Realização: Cursos de Pedagogia e Psicologia e os Programas de Pós-graduação da Faculdade de Educação
APOIO: UFG, Capes, PRPG, PROGRAD, PROEC, PPGE, CIAR, FE.
Para compreender as relações possíveis entre ciência e formação humana é inconteste admitir que, de várias formas e por caminhos diversos, os fundamentos das ciências, das artes, da filosofia, da política e da ética estão cada vez mais sendo questionados. Essa crise nos fundamentos da racionalidade científica, que envolve o malogro em realizar um pleno controle e domínio da natureza via ciência e da sociedade via política, tornaram-se fontes de desencantos e utopias. Nesse sentido, a escolha do tema do Simpósio Ciência e Formação: Utopias e Desencantos pretende abrir espaços de discussão acerca dessa contradição-tensão-paradoxo que se constituiu ao longo do desenvolvimento da razão técnico-científica e de como essa tensão repercute no processo de formação humana condicionado pelos limites e possibilidades do saber científico.
Em uma breve reflexão sobre a gênese e o desenvolvimento da razão moderna, é possível perceber que ela se alimentou tanto da revolução científica do século XVII, que marca a passagem do cosmo finito e fechado dos medievais ao universo matemático infinito e aberto dos modernos, como da descoberta do sujeito pensante cartesiano, que reduz a realidade à condição de representação desse sujeito. Em tal contexto, a ciência emerge sob o signo da ruptura: fé x razão, religião x estado, natureza x homem, corpo x mente, ciência x mundo da vida. Ainda confiante no poder da razão humana disciplinada pelo método, a ciência alimentou o desejo do homem de tudo conhecer e dominar. A ciência, particularmente a física e a matemática, procurou manter um diálogo experimental com a natureza sob o lema de que conhecer é modificar. Entretanto, como observaram Prigogine e Stengers (2008), o homem do século XVII não conseguiu comunicar-se com a natureza senão para descobrir a terrificante estupidez desta. Reduzido à condição de máquina, o mundo moderno, recriado e simulado pela ciência é um mundo desencantado e manipulável pelo cálculo. Essa mesma razão, que prometeu emancipar o indivíduo para a vida numa sociedade racional, conferindo-lhe pleno controle sobre a natureza e a sociedade, paradoxalmente trai seus próprios ideais emancipatórios e se torna manipuladora. A ciência constrói para si um novo mito: o progresso infinito, que alimentará muitas utopias baseadas na visão de uma sociedade idílica, justa e fraterna.
O projeto iluminista, que pretendeu romper com a superstição e transformar o homem em senhor de si mesmo por meio do conhecimento, forjou uma razão neutra e objetiva, encabeçada pela ciência positivista que cria leis objetivando regularizar o desconhecido, estabelecendo repetições para ter segurança perante o inusitado e, assim, controlar a natureza em suas diversas manifestações.
Esse triunfalismo cientificista atinge seu apogeu no século XIX mas ainda hoje predomina a confiança na capacidade do saber científico-tecnológico em conhecer e controlar a natureza, a sociedade e os indivíduos. A modernidade segue tentando desbancar o mito e as força ocultas, ou seja, realizar o desencantamento do mundo para que o homem supere o medo e a incerteza e garanta o caminho correto e promissor para a humanidade. O esteio dessa racionalidade é o projeto de mundo da burguesia, que apresenta a promessa de formação do homem livre que, ao transformar, dominar, controlar a realidade, vislumbra para o futuro uma vida livre e feliz.
Horkheimer e Adorno (1985) indicam algumas contradições da relação entre ciência e formação. Para eles, o mito já é uma forma de esclarecimento que busca explicar a realidade e o esclarecimento regrediu ao mito quando abandonou a potencialidade de reflexão, de se transformar em objeto de si mesmo e se traduziu em um mero procedimento de cálculo para a conquista de uma finalidade que não é refletida em sua racionalidade. Essa razão é funcional e adequada à lógica do capital e vem produzindo a desumanização, a desigualdade e a barbárie. Como o homem é natureza histórica, as leis e controles estabelecidos também vão para si e para o outro, fazendo-o natureza dominada. Esse movimento revela que ao invés de o processo de racionalização da ciência libertar os homens, consolida uma sociedade da dominação.
Ao mesmo tempo, discussões levantadas sobre os limites e possibilidades da razão e da própria ciência colocam os pressupostos de uma crítica à racionalidade técnico-cientificista que alimentará desencantos e utopias em relação ao projeto civilizatório dirigido pelas ciências. A ideia de uma ciência fundada no postulado da universalidade e onipotência do método é questionada, fazendo emergir a necessidade de superar a ideia uma neutralidade do saber científico na busca de uma objetividade pura, que teria como correlato um suposto sujeito (o observador puro). A potência libertadora da ciência voltou-se contra o homem numa sociedade hiper-racionalizada e administrada. Hoje existe uma tendência, entre os cientistas, de compreender que as ciências não possuem enunciados totalmente certos, seguros e rigorosos para suas investigações. Observam-se atualmente transformações nas ciências, que indicam a emergência de novos paradigmas. Em tal contexto, a racionalidade científica, além de abrir mão do monopólio da verdade, assume que talvez só possa lidar com aproximações e probabilidades. Essa nova racionalidade científica tem questionado radicalmente o paradigma cartesiano-newtoniano da ordem a partir da ordem.
A própria ciência pergunta-se acerca do significado, limites, possibilidades de nossa faculdade de conhecer. Cada vez mais, seja no desencanto ou na esperança trazida pelas utopias, desconfia-se de um observador totalmente desencarnado, capaz de obter uma verdade objetiva. Ganha espaço a ideia que um conjunto logicamente coerente de habilidades e competências que exigem um longo tempo de aprendizado não é mais uma vantagem no corrente sistema produtivo, no qual o conhecimento, transformado em informação, apresenta-se como algo ultrapassado muito rapidamente, privilegiando-se a relevância momentânea do assunto. Diante desse gigantesco, vasto e misterioso volume de informações que alimentam utopias e desencantos, escolas e universidades perdem cada vez mais o direito de decidir sobre as regras do “bem viver” e da competência profissional.
O caráter radicalmente técnico de nossa época pode transformar a universidade em uma agência prestadora de serviço, que privilegia uma concepção meramente técnica do mundo natural e humano. As contradições se acotovelam em diversas instâncias educacionais. Formar o trabalhador-cidadão capaz de discernimento, que estabeleça comunicação efetiva, um homem inteiro, esse é o mote. Ao mesmo tempo, a sociedade capitalista se eleva sobre o indivíduo exigindo sua adaptação contínua. A solidão e a mutilação da experiência se revelam no choque, no fetiche da informação, na ausência da narração, na presença da opinião, que negando o autoritarismo com seu relativismo absoluto, também é autoritário, nas marcas externas que teimam em ser registradas tentando capturar o momento efêmero que não vive mais na memória involuntária, nos discursos estereotipados e eufóricos que perpetuam a violência e a resolução rápida de situações complexas.
De certo modo, as condições de se inquietar, de imaginar outra realidade que não a existente, de fomentar utopias foram obstaculizadas. Criticar a ciência e seu procedimento racional predominante, não significa negar a importância do conhecimento científico. O descompasso da ciência, do progresso e do capitalismo é demonstrado quando a tecnologia não é mais um simples prolongamento da mão humana e não tem contribuído para tornar o homem livre do trabalho alienado.
O que fazer, dentro das limitações impostas, para que a universidade volte a constituir-se em uma instância em favor da emancipação humana? O certo é que os discursos no campo da educação, as teorias pedagógicas e seus enunciados acerca do papel da escola, dos ideais de formação, sobre o sujeito a ser educado, são temas que permanecem ao longo dos anos em debate, são temas que abrem espaços para utopias e desencantos. E nesse sentido, por mais paradoxal que possa parecer, o exercício da crítica pode vir a cobrar da sociedade a esperança.
OBJETIVO GERAL
Reunir pesquisadores, educadores, estudantes, profissionais de diversas áreas, promovendo e ampliando os debates, a comunicação dos estudos e pesquisas sobre variadas matrizes teóricas referentes à temática Ciência e Formação: Utopias e Desencantos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Proporcionar um espaço de interação entre pesquisadores interessados na produção do conhecimento nas áreas da Educação e da Psicologia;
- Propiciar maior visibilidade às pesquisas dos estudantes e docentes envolvidos nos estudos do campo da Educação e da Psicologia;
- Estabelecer maior integração entre o sistema de ensino das redes: municipal, estadual e federal e entre a educação básica e superior.